Bolinho de arroz – receita portuguesa

Por Magali Marino

Antes de passar a receita do bolinho de arroz da vovó Carolina, preciso contar a história dessa linda portuguesa de pouco mais de 1,53m  e adoráveis olhos azuis.

Carolina trazia sempre pequenos brincos em forma de leques que só saí­ram de suas orelhas quando ela partiu para sua “viagem”, passando então para minhas mãos com o desejo de que fossem de minha filha, que não por outra razão tem o nome de Caroline.

Nascida em Portugal, na aldeia de  Frechas – minicí­pio de Mirandela, no ano de1890, Carolina Henriqueta Pinto teve uma educação diferenciada para a época, porque seria mandada para o convento. A famí­lia estava bem, tinha terras, mas enfrentou problemas financeiros e o rumo da vida mudou: ficou para trás o convento e com pouco mais de 22 anos, corajosamente, vovó aventurou-se em uma viagem para o Brasil.

No navio, sabe-se lá porque, “apalavrou-se” – como ela dizia com outro portugues – José Ferreira Pinto (meu avô) para se casarem no Brasil. Chegando aqui, sua educação e trato social, permitiram-lhe empregar-se como governanta na casa dos Cunha Bueno, rica famí­lia paulistana. Na casa teve oportunidade de conviver com pessoas do ní­vel da famí­lia e foram muitas as propostas de casamento de ingleses que frequentavam a casa, todas recusadas pelo empenho da palavra dada no navio. Assim, como ela mesma contava, casou-se mais tarde com meu avô José, “um homem bom, honesto e trabalhador, mas sem estudo.”

Vovó Carolina foi viver uma vida de muito sacrifí­cio e muitas dificuldades.
Vovô José  teve um bar resturante, na rua Anhangabaú, onde os quitutes de minha vó – entre eles o bolinho de arroz í  moda portuguesa – eram famosos e a clientela, muito boa, vinha de longe para prová-los. Mas vovô não tinha tino para negócios e nem mesmo a excelente comida levou o negócio adiante. Por essas e outras razões vovó dizia-se “bem nascida e mal vivida”.

Em 1936 mudaram-se todos para o Bairro da Móoca. Eram então vovô, vovó e mais 5 filhos, o último meu pai, também José Ferreira Pinto Filho. Na casa da pequena rua Iolanda, alugada, viveram todos por mais de 35 anos. Vovó partiu em 1971 com 81 anos.

Em seus momentos de esclerose, chorou querendo desmanchar o casamento e muitas vezes disse que a “carrocinha” da mudança estava na porta para que se mudasse.

Com ela descobri as delí­cias da cozinha: puxava a cadeira, subia para alcançar o fogão e com a colher de pau sempre querendo mecher nas panelas comecei a aprender o significado das palavras “refogar”, “apurar”, a diferança dos aromas, provar e “sentir” o que faltava.

Toda a minha infância foi permeada pelas histórias e receitas de minha avó querida, de quem sempre lembro com saudade e muito amor.

Bolinho de arroz

Pegue as sobras de arroz, acrescente leite (de 1/2 a 3/4 de copo), dependendo da quantidade de arroz e 3 a 4 colheres de queijo ralado. Aqueça. Ainda quente passe o arroz no espremedor de batatas. Em um prato bata 1 ou 2 ovos (dependendo da quantidade de arroz), com um pouco de sal, pimenta do reino,  a cabecinha de 1 ou 2 cravos (também depende da quantidade de arroz), salsinha bem picada e 1 colher de sobremesa cheia de maizena. Jogue esses ovos sobre o arroz, misture e prove para ver se precisa de mais tempero. Frite os bolinhos às colheradas com pedacinhos de queijo prato, mussarela ou queijo tipo minas no meio. Bom apetite!

5 Comentários

  1. Caroline
    setembro 22, 2008 at 10:58 am (16 anos ago)

    Que história linda!

    sse bolinho é ótimo mesmo!! Pode parecer estranho, mas adoro comer com banana!! rs Fica ótimo.

  2. paula silva
    janeiro 16, 2009 at 7:39 pm (15 anos ago)

    adorei ahistoria da su avó fez-me recordar muito da minha querida avozinha que também já partiu foi muito rica vivemos todos muito bem mas quando rumou para angola com o meu queridinho avô nunca fizeram planos de voltar a portugal.depois a guerra e voltamos todos,nós bem pequenitos e já nascidos lá, eles sem nada com uma mão á frente e outra a trí z, ela muitas vezes sempre inventando algo para nos dar de comer era uma grande mulher tambem partiu,estou aqui para lhe dizer que vou experimentar os seus bolinhos.e obrigado por partilhar conosco a sua historia.

  3. marcia
    janeiro 20, 2009 at 7:39 am (15 anos ago)

    linda a historia da sua avó Carolina!
    faz voltar a velha infancia e lembrar da minha avó Antonieta!
    que tambem era muito especial

  4. Araujo
    abril 1, 2010 at 4:24 pm (14 anos ago)

    Por gentileza gostaria de receber a receita de Bolinho de arroz.
    obrigado,

  5. babsie
    novembro 2, 2010 at 7:53 pm (13 anos ago)

    queria ter tido uma avó assim! como não deu, espero poder ser, um dia, uma avó assim!!!!

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