Quem é ligado nas notícias do universo da gastronomia deve ter percebido que está rolando um boicote contra vinhos nacionais. O que poderia parecer uma atitude elitista de restaurantes como D.O.M, do chef Alex Atala, ou de lugares como o Taste-Vin, é um movimento bem coerente de reação a algo feito pelos produtores da bebida no Brasil. Existe inclusive uma petição pública, que pode ser assinada online, para que as tentativas de implantar salvaguardas, com o dito fim de proteger o vinho brasileiro da concorrência internacional, sejam abolidas. De acordo com o Jornal do Comércio (RS), o vinho importado é responsável por 80% do consumo no país. E para frear isso, os grandes produtores querem aumentar a alíquota de importação, entre outras medidas protencionistas. Mas, isso mudaria a cabeça do consumidor, acostumado a preferir os vinhos franceses, espanhóis e portugueses em detrimento aos brasileiros? Ou o problema está na qualidade oscilante das marcas e em um passado no qual nem tudo eram flores?
Segundo a sommelière Gabriela Monteleone, em entrevista à jornalista Suzana Barelli, para o site revista Menu, já era difícil fazer com que os clientes aceitassem as sugestões de vinhos nacionais. A missão agora, com a salvaguarda colocando abaixo a reputação do produtos – tanto dos bons quanto dos ruins, agora parece ficar impossível. Achei o depoimento de Mario Telles Júnior, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers em São Paulo (ABS-SP), a mais coerente e explicativo do cenário que está por vir: “Antes da abertura de mercado e da chegada dos diversos rótulos de vinhos importados, o Brasil não contava com o sommelier profissional, não tinha todos os empregos gerados pelas importadoras, os restaurantes não tinham carta de vinhos completas”, contou ele à Suzana (o trecho foi retirado da reportagem).
Visto pelo lado do consumidor, o ato de Gabriela Monteleone em tirar os vinhos nacionais das cartas do D.O.M e do Dalva e Dito, assim como a do chef Rodrigo Fonseca (Taste-Vin) e de outros, é uma forma de proteger o direito de escolha dos clientes. O problema é que se trata de uma retaliação sendo ameaçada por outra retaliação. E aí ao invés de evitar que nós paguemos a conta, que certamente aumentará diante desse cenários, a situação levará à elevação efetiva dos preços e à diminuição da oferta e da variedade de vinhos. Fui assessora de uma marca de espumantes nacional e senti na pele o preconceito que há na área, mesmo a vinícola sendo de uma região respeitada no meio, a Serra Gaúcha. Só nos resta torcer para que Carlos Paviani, diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), se entenda com fornecedores, produtores, restaurantes e chefs. E que o acordo não faça o mercado de vinhos no Brasil retroceder.